segunda-feira, 23 de abril de 2012
Mendigus Urbanus
A crônica urbana sendo vivenciada todos os dias, o nosso personagem preferido, aquele que sempre está lá, mas que não tem a atenção da grande maioria. Vivendo aos cantos e subjugado pela selva de pedra que o rodeia.
Alguns por opção, outros por consequência, ainda assim muitos estão lá. São os não humanos mais presentes e quem sabe até, os mais ativos na peça que se desenvolve todos os dias nisso que chamamos de vida. Não podem ser considerados meros garotos do palco, aqueles que ajudam nos bastidores, pois estão presentes na peça ativamente, desempenhando seus papéis ainda que de coadjuvantes, com uma naturalidade extraordinária. Na verdade eles são os que se pode dizer que não atuam, apenas vivem o "personagem", sem limites, sem reservas, sem restrições.
Jovens seres, alguns não tão jovens, mas que acompanham o dia passar, o movimento da sociedade, observando de perto, mas sem serem vistos. Uma visão privilegiada, de camarote, vendo o vai e vem de cada cidadão.
Ele mesmo não deve se considerar parte de nada, alheio a tudo e inerte em muitas vezes, aproveitando sua oportunidade e situação para observar tudo. Há aqui uma oportunidade unica para se desenvolver como pensador, o mundo passa a sua frente, o que se passa em sua cabeça então?
Todos os dias a mesma posição, a mesma rotina, os cenários talvez variem, mas a cidade nunca irá. Acompanhando os mesmos sons, desde o nascer da aurora até o zunir do vento da madrugada.
O que pensa? o que medita? O que lhe preenche? Em silêncio continuará grande parte do dia, até que venha a se entregar ao sono e possa organizar as ideias em mente ou poder se transportar para seu mundo imaginário, se é que é necessário.
Você que nunca o vê pensa isso, enxerga tudo isso... mas e ele? O que é tudo isso para ele? Existiria esse romantismo todo entorno da situação?
Como uma nova raça se desenvolve, aprimorando cada vez mais a habilidade de se adaptar, de sobreviver, de se tornar invisível aos olhos dos outros.. Ou será que somos nós que estamos nos desenvolvendo na arte de ignorar o próximo?
Uma evolução, pequena, casta e resoluta a qual poucos aguentam. Para a sociedade eles não são mais Homo Sapiens, e sim Mendigus Urbanus.
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Um tema raro de se encontrar. Uma categoria tão excluída que parece indigna até mesmo para ser tema de um texto. O mais triste na situação desses "atores" não é nem a questão da rotina mecânica, uma vez que quase todos estamos inseridos nesta mesma "dinâmica", mas o "esvaziamento" do ser humano ao olhar do outro. Não que estas pessoas sejam vazias, mas a forma como elas estão inseridas na sociedade, cruelmente, as levam a serem vistas apenas como meros mendigos... Nada mais que isso. O seu olhar sobre o que a maioria nada veria além disso, é admirável. Sobre o que disseste no último parágrafo: uma via romântica e outra realista. Quando ignoramos questões como estas, me ponho a pensar até onde vai a nossa sapiência. E, às vezes, me pergunto se a sociedade está realmente passando por um processo de evolução ou involução.
ResponderExcluirFiquei uma boa meia hora pensando em que tipo de resposta mandar... mas me parece bem completo esse comentário. rsrs
ExcluirE de quebra ainda dá mais uma questão para refletir, o de até onde vai a sapiência humana.
Concordo com o termo "esvaziamento" do ser humano ao olhar do outro. Acho que era isso que queria dizer quando falei de "não humanos". É como se perdesse a essência que o permite fazer parte do mesmo universo que os outros, pelo menos aos olhos das pessoas a volta.
Nesse eu ia comentar, mas acabei nem falando, sobre os Garis nas ruas, eles passam por uma situação semelhante. Em maioria são ignorados, não vistos como seres humanos enquanto estão usando seus uniformes de trabalho. Por isso que acho que estamos mesmo é nos aprimorando na arte de ignorar o próximo, algo que deve ser melhor definido como Involução social, eu diria.