sexta-feira, 11 de maio de 2012

Vozes internas


A multiplicidade do ser é um campo da psicologia que me fascina a muito tempo. Sempre achei interessante e curioso a possibilidade de se poder contrariar a lei da física que diz que dois objetos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Mas imagine a possibilidade de dois seres diferentes, as vezes completamente opostos, ocupando um mesmo corpo e perturbando uma mesma mente.

Recentemente comecei a ouvir mais as vozes dentro da minha cabeça. Seus conselhos e frases entrecortadas em geral não fazem sentido nenhum, mas reparar nisso me levou a notar algumas outras coisas.

Quando com sono, minha mente fica muito mais vezes em estado automático do que o normal, e nesses momentos é que parece existir uma pequena guerra civil para saber quem domina o cérebro e os pensamentos. Quando menos espero me vejo com o lado racional derrotado e a mente perdida em devaneios pitorescos e algumas vezes degradantes e improváveis, ou simplesmente psicodélicos o suficiente para serem questionados e duvidados no primeiro instante, mas ainda assim não o são pois o líder atual institui que aquilo é normal e aceitável.

Existem vozes que falam comigo. Pode parecer esquizofrenia, mas não o creio. Em geral é aquela voz de auto-crítica que te ajuda nas decisões, te diz as coisas de acordo com seus conhecimentos e experiências passadas. Deve ser essa a chamada Consciência. Quando não é assim são um grupo, as vezes pequeno, as vezes grande, falando todos juntos em um discurso infindável e ininteligível. Se consigo me focar em uma unica voz logo entro em sua conversa e me lembro de coisas passadas, como se fosse um reflexo do passado sofrendo perturbação como quando se joga uma pedra na água e as ondas formadas distorcem o reflexo.
Certa vez estava lendo artigos aleatórios e lembro ter visto falar sobre esse tipo de teoria, de que dentro da nossa mente existem vários alter-egos, e um deles dominante e este é nossa própria pessoa, mas os outros vivem junto conosco e tentam usar os momentos de menos atenção da personalidade principal para tomar a dianteira. Sim, é uma ideia absurda, mas por que não viável? pelo menos nos leva a imaginar e meditar sobre o assunto.

As muitas letras possíveis que podemos desenvolver, devem dizer muito de nós. Pessoas podem ser completamente analisadas e mapeadas apenas por meio de uma redação. O que devo interpretar sobre as minhas três letras diferentes que uso?
Letra de mão em algumas situações, poucas e de humor específico.
Letra de forma maiúscula, todos os dias a partir do momento que piso os pés dentro de casa, como se minha mente e humor mudasse completamente de forma que apenas a forma rígida e mascarada sem expressar nada que apenas a letra maiúscula seria capaz de expressar.
Letra de forma minúscula com letras de mão incrustadas sutilmente ou inconscientemente. Uso isso na maior parte do tempo, como se esse fosse o meu eu verdadeiro, uma mistura de vários acontecimentos com o passar do tempo formando um conjunto todo costurado e torto, quase como um monstro de Frankenstein das letras e formas de escrever.

Muito poderia ser dito, muito também pode ser confundido com múltiplas personalidades, como por exemplo a bipolaridade, ou a simples indecisão e incoerência de uma pessoa.
Mentes fracas, pouco treinadas para lidar consigo mesmo acabam escapando as margens dessas linhas que separam a sanidade da loucura.
Me vejo a cada dia mais próximo dessa margem, como se o fato de me questionar tanto fizesse um mal mental. Ter tanta consciência pode ser uma benção mas também a chave das portas para uma maldição. Isso constantemente me leva a pensar se os loucos na verdade não são pessoas com a mente aberta demais ou que tem tanta consciência das coisas a sua volta que são anormais para os que não percebem. Pessoas que não tem com quem conversar, ninguém além de si mesmos capaz de entender, atadas às suas vozes internas e condenadas a serem julgadas por isso, incapazes de serem compreendidas ou evitando que o sejam para não infectarem outras pessoas com essa solidão.

2 comentários:

  1. Muito profundo este texto. Eu costumo dizer que sou basicamente duas. E essas duas são completamente opostas.

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    1. Eu não numero, mas as vezes os opostos ficam mais evidentes mesmo. É interessante as vezes notar o quanto se pode variar internamente, esse tipo de coisa me deixa mais fascinado pela mente humana, a psicologia e principalmente o cérebro.

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